quinta-feira, 8 de março de 2012

SÉTIMA PARTE DA HISTÓRIA DOS BALÉS RUSSOS [BALLETS RUSSES], DA CIA. TEATRAL SERGEI PAVLOVICH DIAGHILEV (Paris, 1909-1929).



Pouco depois Diaghilev embarcou em uma de suas mais estravagantes aventuras, quando encenou o balé clássico A Bela adormecida [The Sleeping Princess], com música de P. I. Tchaikowsky (v. Grupo dos Cinco), com luxuosos cenários e figurinos de Leon Bakst, repetindo a coreografia tradicional de Marius Petipa, dançada anteriormente na Rússia por algumas estrelas da companhia. Na noite de estréia no grande Teatro Alhambra (Londres, 3 de nov., 1921), o balé tinha custado muito mais do que a fortuna de L 10.000 (dez mil libras esterlinas), que Oswald Stoll tinha emprestado a Diaghilev para custear os ricos figurinos de Léon Bakst. As roupas luxuosas do século XVIII foram bordadas em ouro e prata, sobre sofisticados tecidos como brocado de seda; e usaram profusão de plumas e adereços como chapéus, arranjos na cabeça, colares e pedrarias. O cenário foi ambientado também no século XVIII.

Diaghilev programou vários espetáculos em colaboração com o inglês Oswald Stoll. Essa temporada londrina foi fracasso que não pagou nem as despesas principais: após 105 récitas no teatro para 3000 espectadores, mas vazio, encerrou-se a temporada. Diaghilev terminou o ano com dívida junto a seus financiadores bem maior do que no começo. No final da temporada, os luxuosos cenários e figurinos criados por Leon Bakst para o balé A Bela adormecida (1921), foram confiscados por Oswald Stoll. Os desenhos de figurinos de Léon Bakst para esta produção se encontram reproduzidos (SHEAD, 1989). Esse balé jamais foi encenado novamente pela companhia dos Ballets Russes; pouco tempo depois, Diaghilev conseguiu saldar sua dívida para com os ingleses. Os belos desenhos de vários dos figurinos de L. Bakst, se encontram reproduzidos (SHEAD, 1989).

Na primavera do mesmo ano Diaghilev arranjou curta temporada em Monte Carlo, onde anualmente costumava apresentar seus balés, sempre com sucesso. A companhia voltou a re-encenar alguns espetáculos que estrearam anteriormente, como A Sagração da Primavera (1920), apresentado com nova coreografia de Leonid Massine, que estreou com a presença de Igor Stravinsky e foi dançado por Lidia Sokolova e Leonid Massine. Logo depois o coreógrafo e bailarino Massine foi demitido por Diaghilev, quando seu caso amoroso com uma bailarina chegou aos ouvidos do empresário russo. Neste ano, além de Mavra, o programa da companhia comportava outro novo balé, com música de Stravinski: A Raposa [Le Renard], com inovadora coreografia de Bronislava Nijinska. Esse balé, considerado obra-prima dos Ballets Russes, estreou com cenários e figurinos Construtivistas de Mikhail Larionov (Londres, 1925). Os Ballets Russes apresentaram concomitantemente o último ato de A bela adormecida, utilizando o cenário de Léon Bakst, criado para sua primeira produção de balé, O Pavilhão de Armide [Le Pavillon d'Armide] (Paris, 1909), com figurinos adaptados de outras produções, ato este que, afinal, tornou-se conhecido no mundo da dança com o título de As Bodas de Aurora [Aurora´s Wedding]. A companhia estava reduzida, mas a estréia na temporada contou com os bailarinos Stanislas Idzikowski, Pierre Vladimorov e Anatole Vilzak e as consagradas Bronislava Nijinska, Vera Nemtchinova, a bela Félia Dubrowska e Lubov Egorova.

A russa Lubov Egorova, mais tarde, se tornou professora de Tatiana Leskova (Paris, 1935-), bailarina russa que viveu décadas no Brasil e afinal foi quem, não só montou o Balé do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, que ela dirigiu (1950-1964), mas se tornou professora formadora de dezenas de bailarinos brasileiros. Leskova trouxe ao Brasil grandes nomes que dançaram nos Ballets Russes como Serge Lifar e Serge Grigoriev (1883-1968), que entrou para a companhia de Diaghilev como bailarino-mimo, mas que, depois, tornou-se figura indispensável como ensaiador; e sua esposa, Lubov Tchernicheva, destaque entre as grandes estrelas da companhia.

A primeira apresentação de Leskova no Theatro Municipal (Rio de Janeiro, jan., 1942), foi na visita do Original Ballet Russe, do Colonel de Basil, quando dançaram As Sílfides [Les Sylphides] (Chopin), com arranjo de Igor Stravinski e a orquestra completa do teatro carioca sob a regência de Eugen Fuerst.

Bóris Kochno, o novo acessor de Diaghilev, apresentou ao empresário russo a idéia original, que levou-o a montar o balé Os entediados [Les Fâcheux], nome e argumento derivado de comédia de Molière, com música de Georges Auric (v. Grupo dos Seis músicos franceses), com cenários e figurinos de Georges Braque. O balé, cujos personagens atuaram com mímica e acrobacias, não fez sucesso junto ao público, mesmo sendo dançado por Lubov Tchernicheva, o bailarino inglês Anton Dolin e Anatole Vilzak. A curta temporada de apenas 12 récitas foi realizada no Théâtre du Champs Elysées (Paris, 1924), inaugurada com o espetáculo As Bichas [Les Biches], balé que insinuou o homossexualismo; e, o novo balé O Trem Azul [Le train bleu], descrito como Opereta dançada de Jean Cocteau [Operette dansée de Jean Cocteau], com argumento de Cocteau, música de Darius Milhaud, coreografia de Bronislava Nijinska, irmã de Vaslav Nijinsky, que os bailarinos A. Dolin e Léon Woizikowsky dançaram com Lidia Sokolova e Bronislava Nijinska.

O cenário praiano foi de Henri Laurens, a cortina foi pintada por Pablo Picasso, e os magistrais figurinos esportivos foram criados e confecionados por Mlle. Chanel. Esse balé foi espetáculo completamente diferente dos balés até então apresentados nos palcos europeus, entre os grandes sucessos dos Ballets Russes. A cortina pintada por Picasso, a fotografia de Dolin dançando com Sokolova, visão geral do cenário com vários bailarinos dançando e a fotografia de Cocteau cercado pelos pares Sokolova e Dolin, Woizikowsky e Nijinska vestidos com figurinos esportivos, Bronislava com uniforme de tenista segurando a raquete de tênis nos braços se encontram publicadas (SHEAD, 1989: 134-137).

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