Sigmund
Freud nasceu em Viena, Áustria; no final de sua vida emigrou para a Inglaterra,
onde faleceu. As pesquisas pioneiras de Freud levaram-no a ser considerado o pai da psicanálise. O médico e analista
Dr. S. Freud tornou-se uma das figuras mais importantes do século XX, influente
na vida contemporânea, mesmo mais um século depois de sua primeira publicação
(1899).
Os
artistas surrealistas, através de André Breton (1896-1966),foram os primeiros à despertarem
para o conhecimento da obra de Freud na França; através das inúmeras revistas
publicadas pelo grupo, citaram Freud nas suas pesquisas e despertaram o
interesse geral dos intelectuais. Na Europa proliferavam as teorias
mais absurdas e canhestras sobre o universo da saúde mental: as teorias do Dr.
Freud foram recebidas com muitas reservas, por parte da comunidade científica
internacional. Antes da primeira obra de Freud aparecer traduzida, publicada
em Paris (Félix Alcan, 1926, na BN), sua obra já era conhecida por Breton, que
deparou-se com a mesma por circunstâncias do acaso. Breton estagiou como
enfermeiro do exército no Instituto de
Psicologia, em Nantes, sob a autoridade do Dr. Raul Leroy, que foi
anteriormente assistente do Dr. Charcot, que por sua vez foi professor do Dr.
S. Freud no Hospital de La Salpetrière
(Paris, 1884-1885).
O
professor Dr. Jean-Martin Charcot publicou suas Conferências sobre as doenças do sistema nervoso, cuja versão
(francês-alemão) foi feita por S. Freud e publicada (Viena, 1886). Freud
continuou em Viena as pesquisas que iniciou com Charcot em Paris: sua primeira
publicação foi A Interpretação dos Sonhos,
que completou o centenário de publicação (4 de nov., 1999). O livro do pioneiro
foi homenageado com edição comemorativa, traduzida (Imago, Rio de Janeiro);
foi publicado, inicialmente datado de 1900, eseu sumário foi publicado pela
primeira vez no idioma francês, traduzido pelo Dr. Maeder (1906).
Breton,
que conhecia os escritos de Freud e tinha problemas pessoais para resolver, foi
procurar o Dr. Freud (Viena, 1921). Do ponto de vista do intelectual francês sua entrevista com o célebre médico foi frustrante; Breton publicou-a em uma de
suas primeiras revistas. Breton buscava soluções imediatas para problemas
humanos complexos e Freud não pode fornecer respostas rápidas às questões mais
profundas dele. Depois deste episódio Breton pouco citou Freud nas suas
publicações; no entanto ele divulgou as pesquisas do Dr. Charcot no artigo
comemorativo do cinquentenário da descoberta da histeria, publicando fotos dos
arquivos do médico francês em uma de suas revistas.
As
obras de Freud levaram mais de 20 anos para chegarem traduzidas à França; mas
Max Ernst, como Breton, também conhecia vários dos livros que leu em
alemão, quando estudou Psicologia Criminal
na Universidade de Bonn. Ernst foi erudito e trouxe subsídios culturais e
teóricos às reuniões que Breton promoveu, antes de tornar-se surrealista e um
dos mais influentes artistas europeus no século XX.
As
teorias de Freud levaram todo o grupo de futuros artistas surrealistas, na
época (c. 1921-1922), a empreenderem a série de experiências que ficaram conhecidas
na arte como o Período do Sono. Nas
reuniões conjuntas do grupo Surrealista os artistas produziram obras, principalmente
desenhos, sob efeito de hipnose, e no período, dito, de meio sono. Deste grupo anterior à eclosão do Surrealismo (1924-1966), participaram André Masson, André Breton, Phillipe Soulpaut,
Paul Éluard, Louis Aragon e Théodore Fraenkel. Tanto Aragon como Fraenkel
estiveram no exército francês junto com Breton: várias fotos dos futuros
escritores em uniforme do exército,
encontram-se publicadas (BEAUMELLE, 1991). Depois que os artistas, futuros Surrealistas,
deram baixa do exército, Soupault e Breton produziram o livro Os Campos Magnéticos (Les Champs
Magnetiques, 1922), produto do Automatismo
Psíquico, que Breton passou a publicar em capítulos na primeira revista editada
por ele, Littérature (Paris, 1919-1924); os capítulos foram reunidos em
livro homônimo, publicado posteriormente (1922). O grupo pioneiro de Breton,
que empreendeu experiências com hipnose, foi obrigado a interromper essas
atividades por ter obtido alguns efeitos indesejados em alguns membros do
grupo, o que levou-os a abandonarem esta, entre outras práticas experimentais. Um
dos artistas mais afetados foi André Masson, posteriormente paciente de Lacan.
Breton
continuou associado à vertente do Automatismo,
pois escreveu e publicou nas suas revistas o artigo Poetas de Sete Anos [Poètes de Sept Ans], sobre crianças que
escreveram poesias complexas nesta idade precoce. Breton divulgou
outros escritores que produziram obras completas quando no estado de alteração
da consciência do Automatismo, como a
jovem Gisele Prassinos. Sabemos que Rimbaud foi um dos autores que escreveu sua
mais famosa obra Une Saison em Enfer
(1893), como produto do automatismo da escrita, fato que os Surrealistas valorizaram. Depois que terminou
o Período do Sono de seu grupo,
Breton desinteressou-se de Freud, que não foi mais citado. Nas primeiras décadas do século XX as obras e teorias
de Freud chegaram ao grande público francês por esta via transversa da
literatura e da arte, como uma das primeiras aberturas no sistema fechado do
pensamento europeu.
O artista
espanhol Surrealista Salvador Dali,
também visitou Freud (1938): ele desenhou o retrato de Freud, que mereceu a
observação: ...esse espanhol... Freud
foi homenageado com outro retrato pelo notável artista uruguaio Ernesto Arostegui,
que teceu na técnica de gobelin o
moderno Retrato duplo de Sigismund Freud
com câncer no maxilar inferior esquerdo (1980, gobelin de alto liço com fios plásticos e sintéticos sobre urdume
de algodão, com desenho a craiola sobre papel), obra que participou da
representação uruguaia enviada à Bienal de Veneza (1986). Freud foi também
homenageado com seu retrato, pertencente à série Personalidades Judaicas Célebres do Século
XX, de autoria de Andy Warhol, que desta forma homenageou vários
intelectuais e cientistas através de seu álbum com 10 serigrafias, sendo uma
delas Freud (1987).
A
mostra As Antiguidades de Freud,
trouxe ao Rio de Janeiro parte da coleção amealhada pelo professor, que chegou
à ter c. 2000 peças e que o Museu Nacional de Belas Artes exibiu (Rio de
Janeiro, 05 agosto - 18 setembro, 1994). Quando Freud fugiu dos nazistas
escapando para Londres, conseguiu levar sua coleção, com peças raras e muito
antigas da Mesopotâmia, do Egito, da Grécia, da Itália, da China e do Japão, do
Peru, da Nova Guiné e do México. Um catálogo foi publicado por ocasião da
exposição que mostrou a rara reunião de amuletos eróticos, votivos, em formas
de pênis em diferentes materiais como faiança, bronze e
marfim, raras jóias eróticas datadas entre 3392 e 4686. Freud foi o pai do
termo Penisleid, conhecido como inveja do pênis, e conhecia
perfeitamente o simbolismo do fálico no mundo arcaico romano, egípcio e mesmo
japonês, de onde provêm a maioria das peças. As fotos das peças encontram-se
publicadasno catálogo da mostra vinda do Museu Freud, Londres. O catálogo cita
ainda menções de Freud na carta datada (4 de abril, 1898), quando elereferiu-se à
asas que terminavam em pênis, formas de alguns dos amuletos, e descreveu a
estátua de Priapo, no Museu Arqueológico de Aquiléa.
Várias
correntes da moderna medicina refutam as descobertas do Dr Freud e da
psicanálise; a maioria dos críticos mais ferrenhos encontra-se nos Estados
Unidos. O conceito da Anti-Psiquiatria iniciou-se com os Drs. Ronald Laing e
David Cooper (1931-1986) que assinaram o Tratado
de Psiquiatria e Anti-Psiquiatria (1967); outro dos ferrenhos opositores é
o Dr. Adolf Grunbaum, professor de psiquiatria e chefe do Departamento de
Filosofia da Universidade de Pittsburg, e autor de Fundamentos da Psicanálise : uma Crítica Filosófica [The Foundations of Psychoanalysis: A
Philosophical Critique]; ele abordou o tema em outro livro de sua autoria, Validação na Teoria Clínica da Psicanálise [Validation
in the clinical Theory of Psychoanalysis]. O maior questionamento europeu das
teorias de Freud surgiu com os filósofos franceses Giles Deleuze, Michel
Foulcault e Félix Guattarri, através de sua publicação O Anti-Édipo. Outras correntes pregaram que o caminho promissor
para o estudo da mente humana seria o concurso da neurociência, com várias
especialidades reunidas, trabalhando e pesquisando em conjunto, médicos,
psicanalistas e neurologistas. Vale ler o livro de GAY (1990), detalhada biografia que explica parcialmente o Dr. Sigmund Freud. E, no Brasil
repetimos o dito popular, Freud
Explica...
REFERÊNCIAS
SELECIONADAS:
CATÁLOGO. BEAUMELLE, A. de la; MONOD-FONTAINE, I.; SCHWEISGUTH, C. André
Breton: La Beauté Convulsive. Paris: Musée National d'Art Moderne, Centre
Georges Pompidou, 1991, p. 187.
CATÁLOGO. ZUSMAN, W.; GAY, P. (Introd.). Sigmund Freud e Arqueologia: sua coleção
de Antiguidades. Rio de Janeiro: Salamandra e Museu Freud, Londres, 1994, pp.
98-99.
BÉHAR, H. André Breton le
grand indésirable. Paris: Calmann-Levy, C. N. de Lettres, 1990. [16] p. de
lam.: retrs., p. 187
CATÁLOGO.RAISONÉE. FELDMANN, F.; SCHELLMANN, J.
Andy Warhol's Prints. Catalogue
Raisonée. New York: Ronald Feldmann Fine Arts, Shellman Verlag, Abeville Press.
GAY, P. Freud – Uma Vida para Nosso Tempo. São Paulo: Companhia das Letras,
1990,
MONTREYNOUD,
F.; BADINTER, E. (Pref.); HELFFER, C (Cinema); KLYMAN, L.; PERROT-LANAUD, M.;
AUDÉ, F. Le XXe Siécle des Femmes. Paris: Nathan, 1995, p. 287.
PIERRE, J. El futurismo y el dadaísmo.
Madrid: Aguilar, 1968,
p. 155.
PIERRE, J. L'Univers Surréaliste. Paris: Éditions d'Art Aimery Somogy,
1983, pp. 304-305.
SEUPHOR, M.: RAGON, M.: PLEYNET, M. L'Art
Abstrait. Paris: Maeght, 1949. 1971-1988, 05 v.: il., pp. 46-47.
Nenhum comentário:
Postar um comentário