segunda-feira, 14 de maio de 2012

GLOSSÁRIO: ARTE NEGRA


[ART NÈGRE] (Paris, 1900-1920).

O colecionador Paul Guillaume (1891-1934), também negociante de arte, foi um dos amigos diletos de Guillaume Apollinaire (1880-1918) e um dos primeiros a destacar-se na divulgação e comercialização da arte, dita, Negra [Nègre], africana e primitiva. A galeria de arte de Guillaume tornou-se o ponto de encontro dos artistas Cubistas (1908-), movimento das vanguardas francesas, onde muitos adquiriram suas próprias coleções de arte primitiva.

Guillaume foi um dos pesquisadores que, juntamente com Apollinaire, publicou um dos primeiros estudos sobre a arte da África e Oceania, no livro Esculturas Negras [Sculptures Nègres] (Paris: Paul Guillaume ed., 1917), do qual o marchand foi co-autor. A galeria de arte publicou anúncios na revista que Apollinaire editou com sucesso, Les Soirées de Paris [As Noites de Paris] (1912-1914). Guillaume organizou a primeira mostra deste tipo de arte com o nome de Primeira Exposição de Arte Negra e de Arte da Oceânia [Premiére Exposition d'Art Nègre et d'Art Oceanien], realizada na Galeria Devambez. No catálogo da mostra foi reproduzido o texto de Apollinaire: À propósito da arte dos negros [A propos de l'art des noirs] (1919). Paul Guillaume foi muito amigo de Pablo Picasso.

Nos anos que se seguiram a Arte Negra passou a ser notada e comentada: inúmeros artigos sobre a Art Nègre foram publicados em várias revistas. Foram lançados dois textos de Tristan Tzara: Nota sobre a Arte Negra [Note sur l' Art Nègre] (1917) e Nota sobre a Poesia Negra [Note sur la Poèsie Nègre] (Paris, 1918). A estas influências somaram-se as pinturas idílicas das ilhas percorridas por Paul Gauguin, que, no começo do século XX começaram sua carreira de exposições internacionais, exercendo a maior influência sobre toda a geração que, depois da Primeira Guerra Mundial (I GM), sonhou partir em busca de paraísos perdidos em terras exóticas. A arte influenciada pela Arte Negra foi a arte da evasão, da fuga do cotidiano no ambiente pesado que permeava a vida política e social dessa geração européia.

Foi Maurice de Vlaminck (1876-1958), quem encontrou, em um brechó em Bougival, a escultura, dita, Negra [Nègre], que ele adquiriu e levou para o estúdio de seu amigo André Derain. De acordo com o relato de F. Carco (De Montmartre au Quartier Latin. Paris: Albin Michel, 1927), Vlaminck avaliou a beleza da peça, comparando-a com a Vênus de Milo dizendo ser esta escultura quase tão bela quanto a estátua no acervo do Museu do Louvre. Derain avaliou a obra como tão bela quanto a verdadeira Vênus, mas Picasso declarou que a escultura Negra era mais bela do que a beleza grega clássica da Vênus de Milo. As lições desta fase da arte das vanguardas marcaram a obra de Picasso.

A denominação genérica de Arte Negra, naquela época abrangia as artes nativas da Polinésia, da Oceania, de todas as regiões da África, englobando sem distinções toda a arte dita, primitiva, sem muita especificidade entre as obras oriundas de diversos povos. Estas obras, visivelmente despidas de qualquer decorativismo, externavam sólido poder de síntese, apresentando volumes definidos, caráter simples e intrínseco à matéria bruta, sendo marcantemente expressivas. O fato de que os artistas franceses puderam compreender e sentir que a Arte Negra transcendia a matéria da qual era formada, pois transmitia toda a tragédia da existência em simples blocos monolíticos, expressando a natureza no estado bruto e a magia dos povos na universalidade da arte.

A Arte Negra exerceu considerável influência sobre o Cubismo, devido à exposição de arte arcaica das esculturas ibéricas de Osuna, tema da grande mostra realizada no Museu do Trocadero (Paris, c. 1905-1906). Picasso viu a exposição e identificou-se com as obras de Arte Negra e levou sua influência para as primeiras pinturas da fase Proto-Cubista (1906-1907), e, depois para o Cubismo (Paris, 1908-1925).

REFERÊNCIA SELECIONADA:

CATALOGUE RAISONÉE. CACHIN, F.; MINERVINO, F. Tout l'oeuvre peint de Picasso, 1907-1916. Introduction par Françoise Cachin; documentition par Fiorella, Minervino. Paris: Flammarion, 1977. 135p.: il. algumas color. - notas gerais – inclui índices; cronologia 23,5 x 31 cm.

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