sábado, 24 de março de 2012

HISTÓRIA DOS BALÉS RUSSOS [BALLETS RUSSES], DA CIA. TEATRAL SERGEI PAVLOVICH DIAGHILEV (Paris, 1909-1929).

A DITA, TEMPORADA ITALIANA DOS BALÉS RUSSOS DA CIA. S. P. DIAGHILEV (1917).

No início da I Guerra Mundial, Diaghilev e pequeno grupo de fiéis associados refugiaram-se em Lausanne (Suíça, 1914). Um dos diletos amigos de Diaghilev, o artista das vanguardas russas Mikhail Larionov, oficial do exército russo, voltou a seu país depois de expor com Natália Gontcharova na Galeria Paul Guillaume (Paris, 1914). A apresentação no catálogo da exposição da dupla de vanguardistas russos foi de Guillaume Apollinaire. Larionov e Gontcharova haviam acompanhado a Cia. Teatral S. P. Diaghilev a Paris logo no alvorecer da I GM. Gontcharova permaneceu com a trupe, quando todos se transferiram para o território neutro da Suíça. Larionov voltou a Rússia e foi enviado para o front de batalha: gravemente ferido, passou meses em hospital russo, quando foi visitado por Ossip Brik, visita que se encontra documentada em fotografia publicada (KRENS, 1992).


Dispensado do exército russo, Larionov reuniu-se na Suíça aos remanescentes dos Balés Russos; e acompanhou como Diretor de Arte a trupe nas excursões à Itália e Espanha (HULTEN, 1983: 499). Larionov encontrou outros dos Futuristas italianos e conheceu Enrico Prampolini, em Roma (jan., 1917), pois havia conhecido F. T. Marinetti quando da visita do italiano a Moscou e São Petersburgo (1914), encontro que igualmente se encontra documentado em fotografia publicada (HULTEN, 1983: 498).


Em Roma os Ballets Russos encenaram música de Stravinski para Fogos de Artifício [L’Ucello di Fuoco], com cenografia Futurista de Giacomo Balla (1871- 1958). O artista plástico italiano vinha desenvolvendo com  Fortunato Depero (1892-1960), idéias de Marinetti e Umberto Boccioni (1882-1916). A obra de arte como presença e ação em objetos escultóricos, incluiu novos materiais como fios coloridos, fios elétricos, papeis coloridos, vidros coloridos, celulóide, tecidos, espelhos, materiais transparentes de todos os tipos e cores, água, liquidos quimicos luminosos, vidros tranparentes, entre outros elementos, associados a motores elétricos e artefatos mecânicos voltados para a produção de movimentos.


Na época Depero e Balla estavam desenvolvendo proposta de Brinquedo Futurista com motor-barulho-concerto-plástico-espacial: e os Futuristas propunham roupas transformáveis, edifícios transformáveis na mais completa transformação barulhenta do universo, proposta através de vários Manifestos Futuristas, que culminaram com o da Reconstrução Futurista do Universo (HULTEN, 1983: 425).


Balla criou o Manifesto dos Pintores Futuristas e Agitadores Educados, assinado por Umberto Boccioni, Carlo Carrà, Gino Severini e Luigi Russolo (lançado em 11 abr., 1910). Cinco anos depois Balla escreveu o manifesto Reconstrução Futurista do Universo [Riconstruzioni Futurista dell’Universo], assinado com Fortunato Depero (11 mar., 1913).


Durante o período da Primeira Guerra Mundial e devido a indicação de F. T. Marinetti (1876-1944), Balla foi convidado por Sergei Diaghilev para se tornar cenógrafo e figurinista do balé mecânico Fogos de Artifício [L’Ucello di Fuoco]. A encenação foi apresentada com a música homônima de Igor Stravinski (dur. 4´), no Teatro Costanzi (Roma, 17 abr., 1917). Para os desenhos do dito, Primeiro Cenário Plástico do Futurista Balla [Primo Scenario Plastico dal Futurista Balla], conforme se encontra escrito no cartaz do espetáculo, reproduzido (ATTI & FERRETI, 1990).


Balla estudou os efeitos das vibrações luminosas azuis, violetas, vermelho verde - as cores próprias de seu edifício de madeira e tecido - assimétricos e rítmicos como as notas da música de Stravinski. Para a composição Abstrata que deveria ser apresentada durante menos de cinco minutos, Balla criou sobre a estrutura cenográfica movimentos de luz e sombra variados - formas fugazes, sobre uma forma estática - que deveriam suscitar no espectador a mesma reação estupefaciente e maravilhada da explosão animada de fogos de artifício. Um jogo de grande efeito do qual, pela primeira vez, a cenografia foi o espetáculo, onde a centralização da idéia teatral esteve concentrada no único movimento da breve explosão luminosa, de efeito agudo e estridente, que sublinhou e traduziu sons musicais, na eufórica aparição da força primordial do fogo - através da formalização teatral e  da transfiguração do real ao abstrato. Na ocasião, a obra estreou sem bailarinos, com a música ilustrada somente com efeitos de iluminação além de outros produzidos por várias máquinas mecânicas, criações fantásticas de Balla (ATTI & FERRETI, 1990). Os desenhos e estudos do Futurista italiano para a cenografia dessa obra (1915-1917), se encontram no acervo da Galeria de L'Obelisco (Roma).


Balla colocou seu talento a serviço de outras encenações da Cia Teatral S. P. Diaghilev como para O jardim Zoológico [Il Giardino Zoologico], balé que ofereceu para Diaghilev, mas que nunca foi encenado. E para O Canto do Rouxinol [Il canto dell'usignolo], com música de Stravinski, cenários de Fortunato Depero e desenho de figurinos dele, Balla. No entanto a reencenação deste balé foi realizada pelos Ballets Russes com criações de figurinos de Léon Bakst e cenários do artista espanhol Pedro Pruna (Paris, 1916). Os desenhos de figurinos de Balla para esse balé se encontram reproduzidos (ATTI & FERRETTI, 1990).  


No mesmo ano (1916), ocorreram as duas temporadas americanas dos Balés Russos; parte da companhia viajou com Nijinski para a temporada na América do Sul, voltando a Europa depois (nov., 1916). E a outra parte da companhia, que, no primeiro semestre voltou a Europa acompanhando Diaghilev, no segundo semestre voltou a se apresentar nos Estados Unidos (set. 1916 - 24 fev., 1917).



Na mesma temporada parisiense estreou Parada [Parade], dito, Balé Realista de Pablo Picasso, com libreto de Jean Cocteau, cenários e figurinos de Pablo Picasso e música de Erik Satie, no Théâtre du Châtelet (Paris, 18 maio, 1917). A música foi publicada (CHESTER, 1921), e posteriormente apresentada com Olga Lynn e a orquestra da BBC sob a regência do maestro Pedro Morales (Londres, 24 abr., 1931). A primeira apresentação com narrador, ocorreu com Sarah Lawrence e a Orquestra Sinfônica de Wimbledon sob a regência do maestro Kenneth Jones, no Town Hall (Londres, 25 maio, 1965).


Para a dita, Temporada Italiana, Diaghilev preparou com os poucos integrantes que tinha na Europa o balé As Meninas, com cenário do pouco conhecido artista italiano Carlo Socrate e figurinos, finalmente, de Mísia Sert (v. biografia nas postagens antigas). Diaghilev preparou, com coreografia de Léonid Massine, libreto de Goldoni, música de Domenico Scarlatti orquestrada por Tommasini o balé Mulheres de Bom Humor [Donne de Buon Umore], que estreou com cenários e figurinos de Léon Bakst, no Teatro Costanzi (Roma, 12 abril, 1917). Na mesma data e local estreou o balé A Boutique Fantástica [La Boutique Fantasque], com música de Ottorino Respighi adaptada de tema de Rossini, coreografia de Léonid Massine e cenários e figurinos de André Derain.  Em seguida os mesmos balés estrearam na temporada parisiense (11 de maio, 1917).


Picasso também viajou para Roma, onde foram preparados os balés espanhóis para a próxima temporada, entre esses dois balés com cenários e figurinos de Picasso: Polichinelo [Pulcinella] e O Tricórnio (Madri-Londres-Paris, 1918-1919).

REFERÊNCIAS SELECIONADAS:

CATÁLOGO. ATTI, F. C. degli; FERRETTI, D. (Org.). Rusia, 1900-1930, L'Arte della Scenna. Milano: Galeria Electa. Moscou: Museu Bachrusín, 1990, pp. 54-55.

CATÁLOGO. KRENS, T.; GOVAN, M.; GUSEV, V.; PETROVA, E.; KOROLEV, I. WEBER, J.; GRASSNER, H.; LODDER, C.;.WEBER, J. The Great Utopia: The Russian and Soviet Avant-Garde, 1915-1932. Shirn Kunsthalle, Frankfurt: 01-10May, 12992. Stedelijk Museum, Amsterdam; Salomon R. Guggenheim Museum, New York. New York: Salomon R. Guggenheim Museum, Rizzoli, 1992, 732 p.: il., pp. 39-40.

CATÁLOGO. HULTEN, P. (ORG.); JUANPERE, J.A.; ASANO, T.; CACCIARI, M.; CALVESI, M.; CARAMEL, L; CAUMONT, J; CELANT, G; COHEN, E.; CORK, R.;CRISPOLTI, E.; FELICE, R; DE MARIA, L.; DI MILLIA, G.; FABRIS, A.; FAUCGEREAU, S.; GOUGH-COOPER, J.; GREGOTTI, V.; LEVIN, G.; LEWISON, J.; MAFFINA, F.; MENNA, F.; ÁCINI, P.; RONDOLINO, G; RUDENSTINE, A.; SALARIS, C.; SILK, G.; SMEJKAI, F.; STRADA, V.; VERDONE, M.; ZADORA, S. Futurism and Futurisms. New York: Solomon R. Guggenheim Museum, Abeville Publishers, 1986. 638p.: il, retrs., pp. 424-425, 498-499.

CATALOGUE RAISONNÉ, CACHIN, F.; MINERVINO, F. Tout l'oeuvre peint de Picasso, 1907-1916. Introduction par Françoise Cachin; documentition par Fiorella, Minervino. Paris: Flammarion, 1977. 135p.: il. algumas color. - notas gerais – inclui índices; cronologia 23,5 x 31 cm, pp. 85, 127.

THOMPSON, K. A Dictionary of Twentieth-Century Composers 1911-1971.  London: Farber & Farber, 1973. 666p. 16,5 x24,5 cm.

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