O artista nasceu em Le Cateau-Cambrésis, mas faleceu em Nice (França). Matisse foi filho de um atacadista cerealista e deveria suceder seu pai no comércio de grãos. O artista, que passou a infância e a adolescência no norte da França, estudou no Colégio Saint-Quentin; e depois, cursou Direito (Paris, 1887-1888). Matisse trabalhou em escritório de advocacia (1889); mas, em seguida ele esteve doente, o que requereu longa convalescença (1890). Foi nesta época que Matisse descobriu um tratado de pintura; ao restabelecer-se, ele foi estudar arte na Academia Julien (Paris, 1891).
Matisse tornou-se aluno de Gustave Moreau na Escola Nacional Superior de Belas Artes, onde passou à conviver com a primeira geração de artistas das vanguardas francesas, como Georges Rouault, Henri Manguin, Georges Camoin e Albert Marquet. Logo na sua primeira mostra o Estado francês adquiriu seu quadro A Tecelã [La Liseuse] (1896); no ano seguinte, Matisse expôs uma de suas mais importantes obras, A Sobremesa [La Desserte] no Salão Nacional (Paris). Essa pintura de Matisse recebeu críticas bastante desfavoráveis, mas hoje a conhecida obra pertence ao acervo do Museu Puschkin de Belas Artes (Moscou).
Matisse conheceu quem tornou-se seu dileto amigo: o pintor Camille Pissarro. O artista passou a estudar a pintura Impressionista com Pissarro, artista que participou de todas as oito mostras do grupo das vanguardas Impressionistas (1874-1885). Matisse casou-se (1898) e, quando foi passar sua lua de mel em Londres, pôde admirar as obras do pintor inglês William Turner, artista influente sobre as vanguardas européias Pré-Impressionistas. Matisse voltou ao seu país, mas logo depois ele saiu de Paris e radicou-se com sua familia no sul da França. O artista comprou do marchand parisiense Ambroise Vollard a importante obra As três Banhistas (1899), de Paul Cézanne: como Matisse devotou sempre grande admiração ao velho mestre, grande amigo de Camille Pissarro, ele colocou esse quadro em local de destaque no seu estúdio (Paris). Todos os visitantes, entre esses muitos artistas das vanguardas francesas, puderam admirar a pintura de Cézanne, que, desta maneira, influenciou muitos pintores como Picasso e Braque, idealizadores do Cubismo (1908-1922).
Matisse pintou frisas decorativas no Grand Palais (1900); e sua esposa inaugurou loja de modas, ajudando a família a fazer face as despesas e superando várias dificuldades financeiras. Matisse viajou, para pintar ao ar livre na região de Saint Tropez (1902), local onde ele encontrou vários dos principais pintores divisionistas da pincelada, os ditos Pontilhistas, do grupo que, mais tarde, ficou conhecido como Pós-Impressionista. O grupo reuniu Georges Seurat, Henri-Edmond Cross e Paul Signac, entre outros, que formaram a comunidade artística em Saint-Clair, no sul da França. Na época, Matisse deixou-se influenciar pela técnica pontilhista empregada nas pinturas do grupo vanguardista e pintou Luxo, Calma e Volúpia [Luxe, Calme et Volupté] (1904, óleo/ tela, 98 cm x 118 cm). O título da obra foi baseado no poema Convite à Viagem [Invitacion au Voyage], de Charles Baudelaire.
Escritor que influenciou as vanguardas e que frequentou o grupo dos intelectuais que se reuniam no Café Guerbois, local onde Édouard Manet instalou seu escritório informal que reuniu, uma vez por semana às quintas-feiras, os escritores Émile Zola, Charles Baudelaire, os críticos de arte Duranty e Théodore Duret, e os artistas plásticos, pintores e gravadores Paul-Camille Guigou, Constantin Guys, Alfres Stevens, Armand Guillaumin, Félix Bracquemond, Fréderic Bazille, Edgar Degas, Pierre Auguste Renoir, Claude Monet, Alfred Sisley, Camille Pissarro e inclusive Paul Cézanne, que vivia em Aix-en-Provence, mas que comparecia à reunião semanal no café sempre que passava por Paris. Esse grupo de artistas ficou conhecido como o Grupo das Batignolles (c. 1868-1870): foi a guerra Franco-Prussiana e a guerra civil que se seguiu que matou Bazille, e interrompeu as reuniões do grupo (1871).
Matisse expôs seu quadro Luxo, Calma e Volúpia no Salão dos Artistas Independentes (1905), onde essa pintura foi adquirida por Paul Signac, que conservou-a consigo durante toda a sua vida; hoje o quadro pertence ao acervo do Museu d'Orsay (Paris) e se encontra reproduzido (BONFANTE-WARREN, 2000). O escândalo no Salão de Outono (1905) foram as pinturas dos artistas que ficaram conhecidos como as Feras [Fauves], nome pejorativo que o crítico de arte Camille Mauclair deu ao grupo. Na mostra parisiense Matisse apresentou sua pintura Mulher ao chapéu [Femme au chapeau], pintado com pinceladas livres com cores vivas, ácidas e diferenciadas, quando o rosto da dama recebeu faixa verde.
A colecionadora e escritora norte-americana Gertrude Stein, que vivia em Paris com seu irmão Léo e que patrocinou as primeiras vanguardas francesas, adquiriu esse quadro de Matisse. No Salão de Outono do ano seguinte, Matisse expôs suas pinturas na dita, Sala das Feras, em companhia de obras de André Derain, Othon Friesz, Albert Marquet, Kees van Dongen e Maurice de Vlaminck, entre outros vanguardistas. As pinturas apresentadas foram obras com cores vivas, puras, chapadas sobre a tela, apresentando manchas, na nova estética das pinturas algumas vezes próximas da Abstração.
Os amigos norte-americanos dos Stein, a família do Dr. Claribel Cone, visitou a mostra de Matisse (1905): sua filha Etta, referiu-se às imagens do pintor como loucura colorida. Sally, cunhada de Gertrude Stein, levou as duas irmãs para visitarem o estúdio do pintor. Etta apaixonou-se pela arte de Matisse, paixão que dividiu com sua irmã Claribel; nessa primavera que elas passaram em Paris, ambas adquiriram os primeiros desenhos de Matisse. Foi o início da mais bela coleção de obras de Matisse nos Estados Unidos, pois as irmãs, que viajavam frequentemente à Europa, chegaram a adquirir mais de 500 obras em várias técnicas: desenho, pintura, escultura e artes gráficas. A seleção das obras (1917-1944), que apresentam muitas facetas da arte colorida de Matisse, foi recentemente exposta na mostra Matisse, Picasso e a Escola de Paris [Matisse Picasso and the School of Paris] (10 out., 2004 - 16 de jan., 2005), no Museu de Arte da Carolina do Norte (Raleigh). Todas as obras-primas vieram da coleção Etta e Claribel Cone, pertencente ao acervo do Museu de Arte de Baltimore. As irmãs também adquiriram 113 obras de Pablo Picasso, principalmente desenhos dos primeiros anos (1905-1906): essas obras, juntamente com as de Matisse, tomavam totalmente as paredes do abarrotado apartamento das irmãs, em Baltimore (EUA).
Matisse viajou para a Algéria onde comprou esculturas da arte, dita, Negra [Nègre]; e, no salão mantido por Gertrude Stein, Matisse foi apresentado à Picasso que, nessa época, pintava o retrato dito, Proto-Cubista de Gertrude Stein (1906-1907). No seu estúdio, Picasso pintava uma das suas principais obras Proto-Cubistas, As Senhoritas de Avignon [Les Demoiselles d' Avignon] (1906).
O crítico de arte, poeta e escritor Guillaume Apollinaire, amigo de Picasso ficou imediatamente interessado nas pinturas de Henri Matisse e nas do Grupo das Feras (1907). Matisse inaugurou sua Academia de Arte, no Boulevard des Invalides (1908); e, no mesmo ano, o artista publicou as Notas de um pintor [Notes d'un peintre], na La Grande Revue (Paris). Esse primeiro artigo publicado de Matisse foi dos primeiros textos sobre arte escrito sob o ponto de vista de artista plástico.
O conhecido colecionador russo Sergei Shchukine, cliente fiel da Galeria de Arte de Daniel-Henry Khanweiller, marchand de Picasso, encomendou a Matisse duas pinturas: os painéis murais A Dança e A Música (1910). O russo Shchukine tornou-se um dos principais patronos do jovem artista na época em que Matisse era pouco conhecido, e, entre os destaques de sua admirável coleção, ele adquiriu mais de vinte pinturas do artista francês. As obras raras dessa coleção particular foram todas encampadas pelo Estado Russo (1918), logo depois da Revolução Russa (1917), e hoje pertencem à grande coleção de arte das vanguardas francesas que se encontram nos acervos do Museu Pushkin de Belas Artes (Moscou) e do Museu Russo (São Petersburgo).
Matisse foi viver com sua família em Issy-les-Moulineaux: ele passava sempre temporadas de verão no sul da França, principalmente na Côte d'Azur (1910-). Matisse expos suas pinturas A Dança e A Música, no Salão de Outono (Paris, 1910). No mesmo ano Matisse viajou através da Europa, ocasião na qual ele visitou mostra de arte muçulmana em Munique (Alemanha). O pintor percorreu a Espanha e, na volta, Matisse encerrou as atividades de sua escola de arte (1911). O artista visitou S. Shchukine em Moscou, e, nessa ocasião, instalou no palacete do russo todas as vinte e uma pinturas que o colecionador adquiriu dele, no salão que Shchukine chamava de meu fragrante jardim.
Matisse viajou novamente na companhia de Manguin e Marquet, e passou uma temporada em Marrocos (1912); essa viagem influenciou a obra de Matisse, que passou a pintar várias odaliscas, em cenários no estilo oriental. As obras de Matisse participaram da mostra internacional com curadoria de Arthur Garfield Dove, a Exposição da Armada [Armory Show] (6th Regiment Armory, Nova York, 1913), itinerante à Chicago e Boston, que atraiu mais de 200.000 visitantes.
Matisse expôs seu Nu Azul, consagrado com sucesso de escândalo e suas pinturas de temática oriental, que ele produziu durante e logo após sua estadia no Marrocos, na mostra individual realizada na Galeria Bernheim-Jeune (Paris, 1913).
Matisse expôs seu Nu Azul, consagrado com sucesso de escândalo e suas pinturas de temática oriental, que ele produziu durante e logo após sua estadia no Marrocos, na mostra individual realizada na Galeria Bernheim-Jeune (Paris, 1913).
O pintor Cubista Juan Gris, grande amigo de Picasso e de Khanweiller, que Matisse conheceu quando passava temporada pintando em Collioure, ficou grande amigo dele (1914). O artista continuou produzindo pinturas à óleo, esculturas e gravuras, mas sua saúde estava comprometida com problemas graves. Durante o período da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), Matisse passou a temporada na Côte d'Azur; e, depois do final do conflito, ele expôs suas pinturas em mostra conjunta com Pablo Picasso, realizada na Galeria Paul Guillaume (Paris, 1918). A apresentação do convite foi de Guillaume Apolinaire, amigo de ambos que faleceu nesse ano de gripe espanhola, e que se transformou no mais importante escritor e crítico da nascente arte das vanguardas francesas e principal editor da revista As Noites de Paris [Les Soirées de Paris] (1912-1914).
MATISSE: CENÓGRAFO DE BALÉ.
Matisse foi convidado por S. Diaghilev e executou os cenários e figurinos para o balé O Canto do Rouxinol [Le Chant du Rossignol] (1916), com música de Igor Stravinsky, reencenado nos palcos parisienses pela Cia. Teatral S. P. Diaghilev, promotora dos Ballets Russes. O artista executou a cenografia para o balé O Vermelho e o Negro [Le Rouge et le Noir], baseado no romance de G. Sthendal, com coreografia de Leonid Massine e música do compositor russo Dimitri Shostakosvich.
TAPEÇARIAS DE MATISSE.
Em meados da década de 1920 Matisse participou como convidado do grupo dos mais renomados artistas franceses, que pintaram em cartão o desenho que foi transformado em Tapeçaria tecida na técnica dita, Gobelin. Esse grupo foi convidado pelas Edições Cutoli [Éditions Cutoli], de Marie Cutoli, que reproduziu cada pintura na obra têxtil, buscando o máximo de fidelidade possível aos desenhos dos cartões pintados pelos artistas. Na década de 1930, este conjunto de Tapeçarias participou de duas mostras internacionais: a primeira foi organizada na Galeria Reid e Lefèvre (Londres) e a segunda no Clube da Arte [Arts Club] (Chicago, Illinois, 1933).
ILUSTRAÇÕES DE MATISSE.
O editor suíço Albert Skira convidou Matisse para ilustrar o livro de poemas de Stéphane Mallarmé, um dos escritores franceses mais admirados pelas vanguardas artísticas, desenhos publicados posteriormente (Paris, 1932). Matisse ilustrou Ulisses (1934), livro mais importante da obra do escritor dublinense James Joyce. Durante o período da Segunda Guerra Mundial Matisse continuou a dividir suas temporadas entre Nice e Paris, mas precisou de cirurgia e padeceu novamente de longa convalescença. Na época o artista produziu várias ilustrações para os Poèmes, de Edmond de Ronsard (1941). Matisse restabeleceu-se, mas perdeu parcialmente a visão; foi esse o motivo que levou-o a executar colagens com papéis coloridos, realizadas para seu livro Jazz (1943), publicado anos mais tarde (1947). Matisse ilustrou o livro Flores do Mal [Fleurs Du Mal] (1944), de autoria de seu amigo Charles Baudelaire.
EXPOSIÇÕES DE MATISSE.
O artista viajou para o Taiti, passando por Nova York, onde recebeu o convite do colecionador norte-americano Alfred Barnes para pintar murais na Fundação Barnes (Merion, PA). O ano quase final da guerra foi trágico para a família de Matisse: sua mulher foi presa e sua filha deportada, acusadas pelos alemães que ocuparam a França durante quatro anos de pertencerem à Resistência Francesa, organização ativa que lutou contra os nazistas. O pintor expôs suas obras novamente em mostra conjunta com Pablo Picasso (Londres - Bruxelas, 1945). Matisse executou o projeto completo, painéis e vitrais da decoração da Capela do Rosário (Saint-Paul de Vence, 1948). Nesse ano Matisse expôs suas obras em outra grande mostra retrospectiva na Filadélfia (EUA) e no MNAM (Paris, 1949), onde seus papéis cortados foram apresentados pela primeira vez, juntamente com suas pinturas. A primeira mostra retrospectiva de Matisse foi realizada na Galeria Bernheim-Jeune (Paris - Copenhagen, 1924). Matisse recebeu o Grande Prêmio de Pintura, na XXV Bienal de Veneza (1950). Matisse expôs suas obras em outra mostra retrospectiva, no MOMA (Nova York, 1951). No ano seguinte, Matisse mostrou suas obras em mostra norte-americana, itinerante a Cleveland, Chicago e San Francisco.
Quando Matisse sentiu a proximidade do final de sua vida, ele doou inúmeras obras para sua cidade natal, destinadas à criação do Museu Matisse, inaugurado pouco tempo depois (1953). No ano seguinte Matisse faleceu deixando obra ímpar, poética e original (Nice, 1954). As obras de Matisse receberam várias homenagens póstumas como a realização de grande mostra retrospectiva no MNAM (Paris, 1985) e no MOMA (Nova York, 1992).
REFERÊNCIAS SELECIONADAS:
BONFANTI-WARREN, A. The Musée D'Orsay. New York: Barnes and Noble, 2000. 320p., il., color. 25,5 x 36,5 cm, pp. 20, 250.
FOLHETO. Matisse Picasso and the School of Paris: Masterpieces from the Baltimore Museum of Art, Featuring Selections from the collection of Etta and Claribel Cone. Raleigh: North Carolina Museum of Art, October 10, 2004/ January 16, 2005.
ELDERFIELD, J. Henri Matisse, a Retrospective. New York: Museum of Modern Art, Harry N. Abrams Publishers, 1992.
FERRIER, J. L.: SIMON, A. Les Fauves : le régne de la couleur: Matisse, Derain, Vlaminck, Marquet, Camoin, Manguin, Van Dongen, Friesz, Braque, Dufy. Paris: Pierre Terrail, 1992. 223 p.: il., p. 213.
SCHNEIDER, P. Henri Matisse. Paris: Flammarion, 1993, pp. 8-9.
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